1.Deve ser masoquismo, tendo em conta o actual sentimento da nação, mas o meu sobrolho continua a franzir com a acção policial durante o sequestro no BES. Quem percebe de armas explicou-me que a bala que atravessa o vidro do banco vem de dentro para fora, porque é do lado de fora do vidro que se vê poeira a formar-se. Isto significa que a aselhice de disparar através de um vidro espesso não foi da PSP e sim do criminoso, o que me deixa um pouco mais descansado do que no post anterior, neste ponto específico. Contudo, essa evidência mostra que houve um sniper que falhou um tiro e que o assaltante não só teve tempo para proteger-se com o refém como para disparar contra ele, se assim entendesse. Assim sendo, as minhas principais dúvidas mantêm-se: a intervenção policial minimizou ou maximizou os riscos para os reféns, teve o timing certo ou foi extemporânea?
2.As minhas interrogações dizem também respeito às negociações e por que motivo falharam. Surgem notícias de que não chegou a ser feito um perfil dos sequestradores e que terão sido os próprios negociadores a atrair os assaltantes para a porta, provocando o momento mais tenso da noite, que ditou a intervenção final. Além disso, pelo que vi num vídeo da SIC, relativo a um outro caso, em Abrantes, os negociadores da PSP usam tamanho paternalismo que se eu fosse sequestrador desatava a matar reféns só para os calar.
3. Convém não esquecer que, na semana anterior à do sequestro do BES, a equipa de operações especiais da PSP, que é agora alvo de elogios sem paralelo, andou metida numa captura no mínimo estranha. Em Abrantes, andou a "trocar" tiros com uns jagunços e um polícia acabou ferido. Por si só, isto não quereria dizer nada, não houvesse uma pequena curiosidade: não foram encontradas armas na posse dos criminosos e, no local, só foram descobertos projécteis de polícia. Sim, é mesmo verdade: um dos GOE, daqueles que treinam todos os dias, que têm miras que vêem um pintelho a três quilómetros e cujas armas disparam a uma velocidade de ziliões por segundo, andou a dar tiros no rabo de um colega. Esse processo está a ser alvo de inquérito, ordenado pelo ministério público de Abrantes.