Um dos argumentos mais em voga nos defensores da austeridade é o aparente sucesso da Irlanda, que cortou a torto e a direito na despesa pública e tem o PIB a crescer. Há motivos muito fortes para torcer o nariz. O facto de a Irlanda estar a crescer significa apenas que as empresas multinacionais com sede fiscal no país estão a ter um maior volume de negócios. Como o país é usado como entreposto fiscal devido ao baixo IRC, por exemplo por farmacêuticas americanas que provavelmente só têm uma secretária e uma caixa de correio na Irlanda, grande parte desse rendimento sai depois do território, na forma de dividendos ou lucros repatriados. É apenas um número que por ali passa. O impacto do crescimento contabilístico do PIB na economia real irlandesa é limitado. Se virmos as contas do país não através do PIB mas através do Produto Nacional Bruto - que desconta as rendas que uma economia envia para o exterior -, a Irlanda esteve, está e vai continuar em recessão, tal como a Grécia e Portugal. Quem anda a apregoar as virtudes do bom aluno, terá certamente dificuldade em explicar como é um desempenho económico tão pujante aumenta o desemprego para mais de 14%.