A digestão da moção de censura do Bloco de Esquerda ainda é curta, mas só me ocorre a palavra "idiotice" para classificar a decisão do partido. Correndo o risco de não estar a ver bem o filme, ou de não estar a ver o filme todo, acho que Louçã é bem capaz de ter assinado o seu último acto político relevante enquanto líder partidário. A decisão de apresentar uma moção de censura que entrega o poder de bandeja a Passos Coelho pode sair-lhe caro. Começa já nestas eleições. Aparentemente, o partido não percebeu que, mesmo que haja muito eleitorado de esquerda descontente com o PS, as alternativas Passos Coelho ou Passos&Portas são encaradas ainda com mais azedume. Não percebeu que há quem ache estranho estar a fazer isto um mês depois de ter apoiado Manuel Alegre, militante do partido que se quer derrubar. O PS e o PCP vão capitalizar o eleitorado que não gostou da precocidade do bloco, e o PS capta acima de tudo os votos úteis. A direita também ganha com esta movimentação: fica com o argumento de que foi o bloco a criar instabilidade política, não a direita. Sinceramente, só não consigo perceber as vantagens da moção para o próprio bloco. E, se a moção for aprovada pelo PSD e a direita for para o poder, o espaço do BE fica ainda mais fechado na próxima legislatura. Cada vez que tentar criticar o que quer que seja na governação, o BE terá os partidos à esquerda a apontar-lhe o dedo como o partido que possibilitou as asneiras que forem sendo feitas. Internamente, o cenário não será melhor. A moção de censura não foi discutida com os órgãos mais alargados do partido e haverá certamente descontentamento com a cúpula. O BE é Francisco Louçã. E com um Louçã mais fraco, o BE corre sérios riscos de desaparecer do mapa político nos próximos anos.