Estou a pensar em tornar-me num burguês fascista e comprar uma casa. Durante anos, achei que o arrendamento seria a solução mais óbvia para um tipo como eu. A propriedade em si mesma não me diz grande coisa e não estar preso a um lugar é uma grande vantagem. Pensei desta forma até ver o valor das rendas nos bairros em que gostaria de morar. Se já pensava que a solução para a habitação em Lisboa seria nacionalizar as casas desocupadas na cidade, agora estou pronto a fundar um novo partido leninista-estalinista-maiosta que mande para a Sibéria os proprietários que deixam as casas ao abandono e condicionam a oferta do mercado. O passo da habitação própria também implicará enfrentar questões de foro ideológico. Daqui a uns tempos, uma qualquer instituição bancária vai pedir-me recibos de ordenado, extractos bancários e declarações de IRS, para que possa ficar com parte do produto do meu trabalho sem chatices de maior. Não só vou ser enrabado, todos os meses, como terei de ser eu a baixar as calcinhas.