A indústria musical costuma fazer um choradinho com a pirataria na internet, argumentando que as vendas de CD's caíram como cataratas desde que começou a haver troca de mp3. Ora, comparando as vendas de 1999 e as de 2007, registadas pela RIAA (Recording Industry Association of America), verifica-se o seguinte:
1999 | 2007 | Variação | |
Unidades vendidas (CD's, Singles, etc) | 1,161 mil milhões | 544 milhões | -53% |
Valor total (em dólares) | 14,584 mil milhões | 7,985 mil milhões | -45% |
Mas isto é só uma parte da história. Fui ao baú buscar alguns bilhetes dos primeiros concertos a que assisti, para comparar os preços com os actuais. Por curiosidade, calculei também a evolução da inflação, com base em dados anuais do Eurostat.
1998 | 2007 | Variação | |
Festival Sudoeste - passe 3 dias |
32,5 euros (6500 escudos) |
70 euros | +115% |
Semana Académica - uma noite | 5 euros (1000 escudos) | 10 euros | +100% |
Marilyn Manson - concerto na bancada | 17,5 euros (3500 escudos) | 30 a 35 euros |
+70% a 100% |
Inflação | Índice base 100 | 129,7 | +29,7% |
As receitas de vendas de discos de facto caíram para metade. Mas a queda é compensada com a duplicação do preços dos bilhetes dos concertos, que aumentaram a um ritmo três vezes superior ao da inflação média (mesmo usando um deflator, o crescimento real seria enorme). Se a isto somarmos as receitas das vendas de discos online, que já começam a ter uma expressão significativa, facilmente se percebe que a indústria não está a perder dinheiro, há apenas transferências entre segmentos do negócio, para azar de empresas discográficas e benefício de outras.
Antes, fazer digressões era encarado como uma promoção à venda de discos; hoje, um disco serve de promoção aos concertos, de onde vem a rentabilidade. Não é por acaso que a Madonna, com uma carreira de quase trinta anos, deu três concertos em Portugal nos últimos anos, quando antes nunca tinha cá posto os pés. Só na última digressão, ganhou 200 milhões de euros, um valor recorde. Os músicos não deixaram de andar de jactos particulares e de limusines. Sacar mp3 é fixe.
Finalmente, começa-se a ver trabalho a sério da nova administração do BCP. Para enfrentar um mercado de crédito e uma economia em cacos, o banco decidiu lançar uma nova campanha de publicidade que, em qualquer país civilizado, seria motivo de despedimento colectivo na empresa que a tornasse pública. Nem sei o que é pior: se a música digna de um anúncio ao detergente Xau, se a contratação da mulher de um político de carreira do PS, se a utilização de uns figurinos manhosos que remetem para a grande depressão de 1929. Entre as fraudes e esquemas em off-shores das antigas administrações e a publicidade da actual, venha o ministério público e escolha.
Não é fácil, mas vale a pena tentar. Clicar aqui.
Algumas notícias sobre hipotéticos candidatos do PSD às autárquicas têm passado um pouco despercebidas. Em baixo está um resumo. A candidatura daquele artista de entretenimento com o cabelo penteado para trás é particularmente cómica.
Odivelas
Vila Franca de Xira
Amadora
Lisboa
Já decidi o que vou oferecer a mim próprio como prenda de Natal: um farol dianteiro e uma mudança de óleo por 250 euros.
O meu primeiro acidente automóvel enquanto condutor aconteceu ontem. Num parque de estacionamento, deixei o carro descair demais e embati num poste, o que fez estilhaçar um farol do veículo. Apesar de ter cometido um erro de condução, penso que compensei a falha com os reflexos felinos evidenciados no momento da colisão, que ocorreu certamente a dois ou três quilómetros por hora. Assim que me dei conta do sucedido, meti pés ao travão e consegui evitar consequências mais dramáticas. Com uma viga metálica a impedir que o carro se desloque, nunca se sabe o que pode acontecer.
Peço desculpa pelo post anterior, mas foi a melhor alternativa que encontrei para não ter de ver o filme Gangs de Nova Iorque.
Corre a tese de que o BPP é um banco de ricos, que apenas gere fortunas, que não tem risco sistémico, que o Governo devia deixá-lo ir à falência e salvar apenas os bancos que têm depósitos. Nos dias de hoje, isso seria perigoso.
O BPP pode gerir fortunas, mas é um banco de investimento. Um olhada rápida pelo relatório de contas do banco mostra que, em Portugal, a instituição tem participações financeiras na Brisa, na Mota-Engil e no BCP, além de investimentos em curso no turismo, parte deles com classificação prioritária (PIN). Não seria muito sensato tornar ainda mais difícil a execução do aeroporto, do TGV, de novas estradas e empreendimentos, pondo em risco alguns milhares de postos de trabalho, ao deixar cair uma das empresas que, em última análise, estava a contribuir para o financiamento desses projectos.
Há outro problema. O banco tinha, no final de 2007, um passivo de 1,9 mil milhões de euros, um montante que entretanto deve ter aumentado. Quase um terço desse valor dizia respeito a dívidas a outros bancos, nacionais e internacionais. Deixar o BPP ir à falência por causa dos problemas no balanço seria transferir os problemas para os balanços de outros bancos. Não seria avisado ter ainda mais bancos com dificuldades de tesouraria porque o BPP não lhes pagou.
Nos Estados Unidos, em Setembro, deixou-se ir à falência o Lehman Brothers, um banco de investimento que também não tinha balcões ou depositantes. Marcou o início do pior momento da crise financeira actual. O mercado de crédito atolou-se e nas semanas seguintes houve falências de bancos em catadupa, nos Estados Unidos e na Europa. Não sei se tudo o que envolve o BPP entra ou não na definição de sistémico. Mas que parece arriscado, parece.