Mesmo depois de alguns anos de experiências, ainda não consegui perceber que fuso horário prefiro: deitar às 03:00 e acordar às 10:30 ou adiar uma hora cada uma dessas operações. Em qualquer opção, estou sempre aberto a uma pequena sesta complementar à tarde, infelizmente nunca concretizada. A vida é dura.
Um dia, gostava que um jornal português tivesse uma descrição como a que se segue. Pertence a uma notícia do New York Times sobre as negociações do plano Paulson e foi retirada do blogue de Paul Krugman.
In the Roosevelt Room after the session, the Treasury secretary, Henry M. Paulson Jr., literally bent down on one knee as he pleaded with Nancy Pelosi, the House Speaker, not to “blow it up” by withdrawing her party’s support for the package over what Ms. Pelosi derided as a Republican betrayal.
“I didn’t know you were Catholic,” Ms. Pelosi said, a wry reference to Mr. Paulson’s kneeling, according to someone who observed the exchange. She went on: “It’s not me blowing this up, it’s the Republicans.”
Mr. Paulson sighed. “I know. I know.”
Em Portugal, o relato seria algo como:
Segundo apurou o jornal, junto de fonte oficial do Ministério das Finanças, as negociações estão a ser complexas.
Os Estados Unidos estão a viver dias agitados e a forma como lidarem com esta crise financeira pode ditar os aumentos salariais em Portugal nos próximos anos. Tendo esta premissa em mente, a Sic Notícias está agora emitir um programa onde o psicólogo Eduardo Sá explica os malefícios do cyberbulling, ao passo que a Sky News e a CNN estão a fazer directos de uma conferência de imprensa no Congresso norte-americano.
Os americanos ligaram o complicador, talvez por fobia ao conceito de nacionalização. Começou com o programa inicial de Paulson, uma coisa abjecta. Imagine-se que os principais produtores de tomates em Portugal decidem investir, de forma maciça, numa espécie de tomates chamada subprime. Os tomates subprime, apesar de muito bonitos, têm um sabor esquisito e apodrecem mais depressa do que os outros. Como ninguém os compra, a indústria do tomate fica com toneladas de tomate podre nos armazéns e enfrenta a falência. Para resolver a crise, o ministro das Finanças propõe usar ziliões de euros do erário público para comprar tomates subprime podres, mas ao preço de tomates suculentos de Alcobaça. Adicionalmente, o ministro impõe uma cláusula que impede qualquer organismo público ou policial de verificar a sua actuação nas transacções de tomates.
Os congressistas, bastante perspicazes, desconfiaram da bondade da intervenção de Paulson. Democratas e conservadores negociaram, durante todo o fim-de-semana, um documento de 110 páginas com complexas disposições legais, em que são impostos limites às transacções que o Tesouro irá fazer. Haveria formas mais simples de actuar, com efeitos semelhantes, senão melhores. Eu teria nacionalizado meia dúzia de bancos na sexta à tarde, mesmo a tempo de ir jantar um excelente bacalhau com natas acompanhado por um tinto alentejano.
"A friend in need's a friend indeed
A friend with weed is better
A friend with breasts and all the rest
A friend who's dressed in leather
A friend in need's a friend indeed
A friend who'll tease is better
Our thoughts compress
Which makes us blessed
And makes for stormy weather
A friend in need's a friend indeed
My Japanese is better
And when she's pressed, she will undress
And then she's boxing clever"
"In this world there's two kinds of people, my friend: Those with loaded guns
and those who dig. You dig."
Há dias em que me fazem falta uma calculadora de tristeza e outra de alegria, para ver qual está a ganhar ao fim de tanto tempo. Se calhar, também devia ter um segundo blogue para assinalar o distúrbio bipolar em potência.
Perante uma hipótese de ir em frente, pus a marcha-atrás: fui a 160 km/h, Calçada de Carriche acima, encontrar-me com o passado.
Nasceu ontem, oficialmente, um espaço único em Lisboa. Chama-se Fábulas e é um lounge-café com galeria de arte e computadores com acesso à internet. Está num edifício centenário, no pátio Siza Vieira, no Chiado (pertinho da Fnac), e tem interiores apaixonantes. O dia de inauguração mostrou que o cosmopolitismo será um condimento irresistível. Uma violinista russa, recrutada no metro, fez uma actuação ímpar. Ouviu-se quase tanto inglês como português, e o italiano não ficou de fora. A festa misturou artistas, freaks, punks, alguns cantores líricos de uma ópera que vai estrear no São Carlos e até um simpático casal de Campo de Ourique. Demorou mais de um ano a abrir e o chão está encerado com gotas de suor.
A recordação era dos simpáticos agentes da divisão de trânsito da PSP. Uma multa de estacionamento devido a uma infracção cometida há um ano e quatro meses atrás, num dia de greve geral organizada pela CGTP. Como não havia transportes públicos, tive de levar o carro até ao centro da cidade. Como é óbvio, os largos milhares de pessoas que costumam andar de metro, em condições normais, fizeram o mesmo que eu. Depois de meia hora às voltas sem conseguir encontrar um único lugar para estacionar, atrasado, irritado, prestes a transformar-me num daqueles selvagens do filme "Holocausto Canibal", não tive alternativa senão deixar o veículo estacionado onde não devia, embora sem prejudicar o trânsito. Felizmente, nesse dia não ocorreram crimes menores como homicídios ou assaltos à mão armada. Havia muitos agentes disponíveis para combater a verdadeira encarnação do mal e fui multado em 20 euros. Obrigado, camaradas. Ficarão para sempre no meu coração.
A PSP lembrou-se de mim e, certamente cheia de saudades, enviou-me uma correspondência com aviso de recepção. Estou mortinho por ir amanhã aos correios ver se está tudo bem com os meus amigos polícias. Será um postal da Quinta da Fonte ou da Cova da Moura? Será uma encomenda com uma recordação do sequestro no BES? Esta ansiedade mata-me. Vou tentar não emocionar-me demasiado quando estiver a ler a carta dos meus compinchas.
Nos Estados Unidos, duas instituições essenciais para o funcionamento do sistema de crédito hipotecário vão ser "deprivatizadas", como lhe chamou o economista neo-Keynesiano Paul Krugman, cujo blogue no NY Times é do melhor que pode haver para acompanhar estes temas. Por cá, a operação de socorro da Fannie Mae e da Freddie Mac, por parte do Governo Federal, deveria refrear os ânimos dos liberais que, recorrentemente, defendem a privatização da Caixa Geral de Depósitos, onde está parqueado um quarto do total de créditos à habitação em Portugal. E pronto, agora vou fazer um chi-chi.
Não fui agredido, raptado ou morto há duas semanas. Também não estive a frequentar a Universidade de Verão do PSD, o que seria realmente dramático. A partir de hoje, o login que uso para entrar no blogue deverá deixar de ter saudades minhas.