Graças ao altruísmo da empresa municipal que faz a distribuição de água na minha zona, estou há praticamente dois dias sem tomar um banho digno desse nome (por motivos de lazer fora de portas, não me foi possível fazê-lo no sábado). Sem sabonete durante um período destes, o corpo humano torna-se palco de tantas e tão diversas mutações que daria para criar um novo ramo de investigação em biologia animal. Vou poupar o leitor a muitos pormenores, mas posso desde já adiantar que se passar a mão pela barba, posso perfeitamente barrar uma fatia de pão e fazer uma torrada com o material sebáceo que dali sai.
Os meus colegas de trabalho podem respirar de alívio. Depois de um dia inteiro sem água em casa, o abastecimento foi restabelecido, já depois do jantar, e poderei tomar banho de manhã. A recorrência dos cortes de luz e de água no meu bairro faz-me suspeitar que há um objectivo filantrópico por detrás destas interrupções: de vez em quando, as empresas gostam de mostrar aos utentes, seres demasiado acostumados ao consumismo excessivo, como é viver com as condições de um país africano.
Confesso que não sabia ao certo se concordava ou discordava do veto do presidente da República à nova lei do divórcio. Quando a igreja portuguesa manifestou apoio público a Cavaco, a minha opinião formou-se. Estou contra.
As declarações magoadas - e com razão - do velejador Gustavo Lima mostraram aos críticos de sofá a triste realidade do desporto português. Um atleta olímpico, que representa o que de melhor se faz num país, recebe uma bolsa de mil euros por mês. Experimentem dar mil euros por mês ao Michael Phelps a ver se ele continua a levar oito medalhas dos jogos olímpicos ou se vai trabalhar como paquete em Veneza, para ganhar dinheiro.
Bastaram dezassete metros e sessenta e sete centímetros para que um "projecto falhado" se tornasse na melhor campanha de sempre de uma comitiva olímpica portuguesa. Será que quem escreveu coisas simpáticas como aquela que se vê ali em cima vai fazer uma correcção na edição de hoje e pedir desculpa aos leitores e aos visados? Deixo uma dica aos atletas: para solicitar a publicação de um direito de resposta num jornal, invoca-se o artigo 24º da Lei de Imprensa.
Numa altura em que há quem deseje que a comitiva olímpica portuguesa seja recebida com o mesmo carinho que os snipers da PSP partilharam com os sequestradores do BES, haja algum bom senso. Para isso, vale a pena ler isto, isto e isto. Com o rabinho confortavelmente instalado no sofá é fácil criticar.
Sacar da net um filme com 952 GB demorou mais de dez horas, durante as quais gastei electricidade e perdi horas de sono.
Como a bosta a que Microsoft deu o nome de Vista não reproduz o ficheiro em causa no Windows Player, tive de sacar e instalar o Quick Time.
Apareceu a imagem mas o som nem por isso, pelo que tive de procurar e instalar um programa meio "nerd" de codificação e descodificação de codecs.
Consegui finalmente ter o som em condições, mas quando escolhi a reprodução em écran inteiro, a resolução ficou parecida à da transmissão de um jogo de futebol dos anos 70 na RTP Memória.
Decidi converter o ficheiro em DVD. Fui a uma loja e comprei um conjunto de dez DVD's por 6,35 euros. Como a bosta a que a Microsoft deu o nome de Vista não me deixou fazer a conversão com a aplicação do Windows, tive de sacar um programa alternativo para fazê-lo.
Quando finalmente o DVD foi ejectado do computador e inserido no leitor da televisão, a imagem tinha dois logotipos gigantes do programa que tinha usado e o som estava ao dobro ou triplo da velocidade normal.
Deitei o DVD fora. O filme é o "Dog Day Afternoon" e está na Amazon por 12,99 dólares. Com a actual taxa de câmbio, são 8,79 euros.
Estive quase, quase, quase a entrar numa loja Sacoor Brothers. Depois, caí em mim.
Uma festa em que haja sangria à base de frutos silvestres e de champanhe Moët & Chandon tem tudo para correr bem.
Quando uma churrascada se transforma numa charruscada.
Há sectores de actividade específicos que escapam à crise.
(foto enviada por um leitor devidamente identificado)
Isto está bom para os cowboys. Um inspector da PJ descaiu-se e disse o que lhe ia no coração, depois do sequestro no BES: a morte de um assaltante pode ter um efeito dissuasor noutros criminosos. Tribunais, advogados e Estado de Direito são coisas para meninos e a criminalidade combate-se com o dedo no gatilho. O ministro deu um jeitinho e nem sequer abriu um inquérito à actuação policial durante o sequestro, nem que fosse para validar que a operação foi bem conduzida.
A deterioração económica cria mais apetência para o crime e o fácil acesso a armas aumenta a violência em torno das ocorrências, mas as forças de autoridade devem reger-se por um código de conduta que as diferencie do outro lado da barricada. A PSP e a GNR profissionalizaram-se e rejuvenesceram os quadros, mas subsistem sinais inquietantes. Há agentes da polícia portuguesa que pagam do seu próprio bolso para ter formação com instrutores do BOPE, a polícia brasileira que é conhecida por matar tantos traficantes de droga como simples moradores que se atravessam no caminho, durante as incursões nas favelas. A cópia de métodos não se fica por acções de formação. No Brasil, duas crianças morreram nas últimas semanas devido a erros da polícia. Anteontem, em Portugal, um GNR apontou para os pneus de uma carrinha em fuga e, por causa dos "solavancos", acabou por despejar um carregador num miúdo de 12 anos.
Andamos fascinados com os tiros no BES. Estamos a adorar ir ao cinema ver o "Tropa de Elite" e até temos vontade de aplaudir as cenas do filme em que os agentes entram pelas favelas dentro e desatam aos tiros contra tudo o que mexe. É com relativa indiferença que assistimos à morte de um miúdo de 12 anos - era cigano e a culpa é o pai, que o levou para um assalto. Deve ser nostalgia. Não foi assim há tantos anos que em Portugal se decapitaram criminosos em esquadras da PSP. Nessa altura, ordenavam-se cargas policiais contra piquetes de greve e manifestações de estudantes. No Brasil, sempre um passo mais à frente, havia os Esquadrões da Morte, milícias de agentes que largavam o uniforme e executavam crianças de bairros violentos. Nesse tempo, eram as cenas mais violentas do "Rocky" e do "Rambo" que eram aplaudidas, no cinema. Que saudades.
Antes da interessantíssima intervenção sobre os Açores, o mais alto representante do Estado português aguarda que todas as televisões entrem em directo.
Aviso: O vídeo contém imagens que podem ser consideradas chocantes.
Ter dúvidas sobre a intervenção no BES não é pôr em causa a legitimidade da polícia naquela situação, desde que se comprove que não havia alternativa. Vá-se lá saber como, a minha memória tem resquícios de uma aula de sociologia política em que um professor tentava ensinar a algumas dezenas de alunos ensonados que, mais coisa menos coisa, um Estado de Direito se baseia no princípio de que o Estado detém o monopólio da violência. Mas, como em qualquer monopólio, tem de haver regulação.
1.Deve ser masoquismo, tendo em conta o actual sentimento da nação, mas o meu sobrolho continua a franzir com a acção policial durante o sequestro no BES. Quem percebe de armas explicou-me que a bala que atravessa o vidro do banco vem de dentro para fora, porque é do lado de fora do vidro que se vê poeira a formar-se. Isto significa que a aselhice de disparar através de um vidro espesso não foi da PSP e sim do criminoso, o que me deixa um pouco mais descansado do que no post anterior, neste ponto específico. Contudo, essa evidência mostra que houve um sniper que falhou um tiro e que o assaltante não só teve tempo para proteger-se com o refém como para disparar contra ele, se assim entendesse. Assim sendo, as minhas principais dúvidas mantêm-se: a intervenção policial minimizou ou maximizou os riscos para os reféns, teve o timing certo ou foi extemporânea?
2.As minhas interrogações dizem também respeito às negociações e por que motivo falharam. Surgem notícias de que não chegou a ser feito um perfil dos sequestradores e que terão sido os próprios negociadores a atrair os assaltantes para a porta, provocando o momento mais tenso da noite, que ditou a intervenção final. Além disso, pelo que vi num vídeo da SIC, relativo a um outro caso, em Abrantes, os negociadores da PSP usam tamanho paternalismo que se eu fosse sequestrador desatava a matar reféns só para os calar.
3. Convém não esquecer que, na semana anterior à do sequestro do BES, a equipa de operações especiais da PSP, que é agora alvo de elogios sem paralelo, andou metida numa captura no mínimo estranha. Em Abrantes, andou a "trocar" tiros com uns jagunços e um polícia acabou ferido. Por si só, isto não quereria dizer nada, não houvesse uma pequena curiosidade: não foram encontradas armas na posse dos criminosos e, no local, só foram descobertos projécteis de polícia. Sim, é mesmo verdade: um dos GOE, daqueles que treinam todos os dias, que têm miras que vêem um pintelho a três quilómetros e cujas armas disparam a uma velocidade de ziliões por segundo, andou a dar tiros no rabo de um colega. Esse processo está a ser alvo de inquérito, ordenado pelo ministério público de Abrantes.