Para quem acha que os adolescentes de hoje são potenciais serial-killers prestes a degolar qualquer professor que lhes apareça pela frente, uma pequena viagem no tempo. No início da década de 90, veio a Portugal a banda Faith no More, integrada numa digressão com os Soundgarden e os Guns n' Roses. Era ainda pouco conhecida, na altura, mas houve quase uma revolução. Perante inúmeros focos de alvoroço na plateia, que no início do concerto começou com lutas de relva, a banda optou por pedir à assistência que dirigisse a sua fúria para o palco. A solicitação foi bem aceite pela multidão de selvagens drogados e bêbados. Durante o espectáculo, todos os detritos imagináveis, incluindo relva, seringas e garrafas de água cheias com urina, foram enviados para o palco. A banda estava a delirar e o vocalista Mike Patton, provavelmente com uma moca à moda antiga, chegou a despejar uma garrafa de urina pela cabeça abaixo. O vídeo está no youtube, embora incorrectamente atribuído à cidade de Sevilha, Espanha. Os próprios elementos da banda fazem essa confusão, na reportagem, o que se pode explicar pelo facto de serem cocainómanos e americanos, que duplica a probabilidade de serem ignorantes em questões geográficas. Quem olhe com atenção, constatará que se trata de velho Estádio de Alvalade, com as listas verdes e brancas já murchas de cor e aquele edifício alto do Campo Grande em segundo plano. Portugal era então um país mais agreste do que é hoje, tal como a juventude, na minha opinião. A heroína recrutava exércitos, Lisboa estava repleto do que na altura chamávamos de "chungas" e os "catanços" à saída dos estabelecimentos de ensino eram o pão nosso de cada dia. Já não me lembro de quem era o Procurador-Geral da República, à data, nem se foi aberto algum inquérito sobre violência escolar, nessa década. Não fui ao concerto, mas tive pena.
Para uma boa parte dos portugueses, o acordo ortográfico tem tanta importância como a proibição de urinar na via pública: independente das normas, vão continuar a escrever como sempre escreveram e, a julgar pelo hi5 e pelo messenger , é numa linguagem parecida ao eslovaco. A minha preocupação neste domínio é que possam mudar algumas das minhas formas preferidas de escárnio. Modéstia à parte, já domino relativamente bem a arte de insultar em português tradicional e custar-me-ia ter de aprender um neologismo abrasileirado só para chamar "cara de cavalo" a alguém.
PS- Descobri que no Brasil há uma banda de rap cristão chamada Cara de Cavalo. Os membros do grupo, segundo o Myspace , são o Minha pessoa e o Senhor Jesus Cristo, o Criador, o Homem-Mais-Forte e o Chefe-dos-chefes. Nós podemos não ter nomes tão exóticos mas, em compensação, temos a qualidade artística dos Delfins.
Ao ler este post, ocorrem-me três questões:
a) Haverá algum sistema informático que detecte idiotas na internet antes de acedermos às páginas deles?
b) Como ficará o cérebro de um ser humano depois de perfurado com uma barra metálica enferrujada?
c) Será que ainda há Filipinos de chocolate preto no armário dos doces?
"As mulheres jogam invariavelmente à defesa para forçarem o prolongamento. No prolongamento há morte súbita."
Há quem tenha respeito a mais por umas pessoas e a menos por outras. Fazendo a média, parece que está tudo bem.
A revista Atlântico vai ser suspensa por falta de publicidade. A publicação reúne a direita ex-democrata-cristã, ex-conservadora, ex- aristrocrática, ex-latifundiária, que viu no neoliberalismo o caminho da sobrevivência, passando a defender esta doutrina com a força de um cavalo da Golegã. Não deixa por isso de ser irónico que os defensores mais "pavlovianos" do livre funcionamento do mercado deixem de publicar porque o mercado se está pouco borrifando para eles.
O bastonário dos advogados, Marinho Pinto, visitou o líder dos hammerskins, na cadeia, e disse que Mário Machado não devia estar preso só porque tem ideias de extrema-direita. Não sabia que Marinho Pinto era adepto de substâncias psicotrópicas. Na altura da detenção, a PSP encontrou na residência do skinhead uma espingarda caçadeira semi-automática de oito tiros, um revólver, uma besta, soqueiras, um aparelho de choques eléctricos e diversas munições. O processo envolve posse de armas ilegais, extorsão e sequestro.
Roland Barthes, um autor que os mais conhecedores poderão colocar na categoria de chato como as hemorróidas, dizia que qualquer linguagem é fascista porque impõe a sua repetição. É pena que cada geração leve este pensamento demasiado a peito. Há sempre meia dúzia de expressões na moda que têm de ser utilizadas em conversa, até à exaustão, algo que me causa mais apreensão do que o grupo parlamentar do CDS-PP. Hoje em dia, por exemplo, só há duas formas de manifestar apreço por algo ou alguém - ou é "muito bom" ou é "grande". A verbalização destas palavras devia ser punida com apedrejamento público, por falta de imaginação. Até o Barthes desabafaria um "cona da mãe" se fosse vivo, morasse em Portugal e as ouvisse milhentas vezes por minuto.