Nos últimos anos - que coincidiram com o início da minha vida profissional - cheguei à conclusão que deve haver uma quantidade enorme de casais cujos elementos têm "amigos especiais" no trabalho mas que, ao fim do dia, vão para casa cumprir de forma irrepreensível a função de namoradinha/o zelosa/o. Acho que me causará sempre alguma impressão a capacidade de fazer esse jogo de cintura sem grande peso na consciência e sem ponderar as consequências noutras pessoas. Mas constatei que é algo banal, para muitos. Afinal de contas, dar umas voltas sem que o outro saiba pode não ser a actividade mais adequada para meditar sobre a dimensão ética do indivíduo, o phatos e essas merdas do tempo do Aristóteles ou de um outro grego qualquer. Não deixa de ser curioso, contudo, que as principais expressões pejorativas contra quem tem este tipo de comportamento sejam retiradas do reino animal - vacas, cabras, cabrões e por aí fora - quando grande parte da humanidade incorre nesta forma de coexistência. Quanto a mim, depois da perturbação inicial, constatei que a indiferença é um bom caminho para lidar com este universo. Há coisas melhores para conhecer na vida. Adiante.